quinta-feira, julho 21, 2011

A MÃE NATUREZA


"Mãe não tem limite, é tempo sem hora,
luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba,
veludo escondido na pele enrugada,
água pura, ar puro, puro pensamento”.
No poema “Para Sempre”, Carlos Drummond de Andrade mais uma vez revela seu inesgotável talento de transformar palavras simples nas mais belas poesias. Seus versos sublimam uma relação de amor que não cessa com o tempo e são uma inesgotável fonte de inspiração, que amplia o significado da palavra mãe a um patamar pleno e cheio de conteúdo. Aproveitando a arte de Drummond, é possível estabelecer um paralelo entre a mãe natureza, bela e provedora, e os sentimentos que o dia das mães desperta em cada um de nós.
A mãe natureza não tem limites, expande seus domínios sobre a terra, as águas, o ar e o subsolo, de forma interligada e absolutamente harmônica, compondo um conjunto de rara beleza e extrema fragilidade. Cada vez que nós possui, e exerce continuamente, a capacidade de alterar o equilíbrio ambiental tão carinhosamente desenhado pela mãe natureza, diariamente estamos destruindo um pouco dessa relação maternal que a Terra nos oferta há milênios.
Quando Drummond fala que mãe “é tempo sem hora”, ele retrata a universalidade atemporal da expressão amor, esse mesmo amor natural que permitiu o surgimento da vida em nosso planeta. Graças às relações delicadamente estabelecidas pela natureza, os seres vivos puderam evoluir usufruindo de todas os recursos maternalmente disponibilizados. A idade do planeta é a prova contínua desse tempo sem hora: são 4,5 bilhões de anos de contínua evolução para que nós possamos viver nossa fração vital na história da humanidade.
A luz, como símbolo de vida e sabedoria, nunca se apaga, nem mesmo o mais forte vento e a mais intensa chuva têm a capacidade de inibir a mãe luz que guia as civilizações. Somos herdeiros desse amor divino que abastece o mundo e torna a vida mais humana em todos os sentidos, mesmo ainda sem praticar o respeito à natureza de forma contínua, ela nos nutre sem distinção. Essa luz que não cessa é a própria fonte de renovação contínua da vida, é a germinação ininterrupta das sementes que plantamos diariamente.
O lado cândido e doce da meiguice materna é tratada como “veludo escondido na pele enrugada”, é o viço encoberto pelas marcas do tempo e por nossas atitudes de carinho ou desleixo. O nosso modo de agir em relação ao meio ambiente revela as faces de veludo ou a pele enrugada da natureza, somos filhos com a missão de retribuir tudo que a mãe natureza nos oferta. Como o próprio Drummond revela, “amar se aprende amando”, e, só pela prática desse exercício de amor, é que conseguimos descobrir o veludo sob a pele enrugada.
Mãe, segundo Drummond, é “água pura, ar puro, puro pensamento”. Simples assim, puro como o verdadeiro amor e poético como só nosso poeta maior é capaz de sintetizar. Fácil entender a sutil relação entre a pureza do ar, da água e do pensamento, que dirige as ações e é capaz de nos impelir ao respeito à mãe natureza. O amor puro, livre e intenso é o amor para sempre, tal qual deve ser a nossa relação com a mãe natureza. Tratar a natureza como nossa mãe é reconhecer nossa origem, é presentear nossa Terra genitora e deixar germinar as sementes de amor que estão latentes em nós".

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